Eis aqui a Serva do Senhor;
faça-se em mim segundo a Tua Palavra!
Ouvi! Ouvi vós atentamente!
É barulho de festa e de alegria. Na
casa de Ana nascer-nos-á uma menina, nascer-nos-á a Nova Mulher. Escutai! É a
Criação inteira que rejubila pela aurora de um novo tempo: É o Kayrós; o tempo
esperado, a realização da Promessa irrompe na história, Deus decidiu restaurar
na carne daquela Mulher o que, pela força da carne e pelo engano da vil
serpente, fora outrora corrompido. Até mesmo «os Anjos, proclama S. Anselmo,
regozijam-se ao ver restaurada a sua cidade quase em ruínas».
A Imaculada Conceição de Maria é
o Advento da nova criação que realiza-se por intermédio do Fruto Bendito de seu
abençoado e puríssimo ventre. O dobrar dos sinos anunciando os primeiros tempos
deste que é «O Tempo», abrem espaço à ação maravilhosa da Graça de Deus,
comunicam a alegria que este mistério realiza na história de toda a Criação. No
ventre de Ana, Deus prepara uma criatura nova, «singela, doce e pura». Rompe-se
a cadeia que ligava de modo perverso todas as criaturas; rompe-se o elo da
vilania primeira que maculara a humanidade inteira e cuja herança maldita
tocava cada nascido de mulher, os degredados filhos de Eva.
Exilados de nossa pátria
primeira, estranhados do jardim onde floresceu a Vida e onde o amor transborda
e corre regando cada criatura que d’Ele emerge, esperávamos e desejávamos
ansiosamente voltar. O Deus de Misericórdia põe em Maria a chave de amor e
pureza que permite à humanidade inteira reencontrar o caminho da Terra distante
mas nunca esquecida. De fato, cada homem e cada mulher carrega, desde o dia fatídico
e nebuloso da expulsão, no mais profundo de sua alma, uma saudade inexplicável,
uma sede de plenitude e de Graça misteriosa e insaciável: é sede de Deus; é
sede do Céu; é sede de ser outra vez Amor e Comunhão. Na terra bendita da vida
de Maria, Deus faz brotar as torrentes de suas delícias; a água viva que sacia
toda sede; a Porta aberta para que todos retornem ao alegre convívio divino.
A Palavra, o Verbo através do
qual o Pai tudo Criou escolhe desde a Eternidade o ventre Bendito de Maria como
sua morada pelos séculos. De fato qual filho não habita para sempre o coração
da Mãe e qual mãe não faz de sua vida refúgio e proteção para seus filhos? Tanto
mais, Aquele que é gerado e amado eternamente pelo Pai, faria daquela que
escolhera por mãe o tabernáculo puro e santíssimo onde pode ser encontrado,
amado e adorado para sempre.
A união de Maria com a Palavra não
se dá somente pelo SIM que abre as portas à encarnação do Redentor, mas desde
sempre a Palavra a preparou como Púlpito da Divindade. Deus de cuja misericordiosa
vontade tudo provém e a cuja omnisciência nada escapa deixou semeada na obra de
suas mãos uma semente de remissão que haveria de brotar e florir no tempo
oportuno para que o Salvador irrompesse e redimisse a Criação inteira da mácula
primeira.
Na Terra humilde e árida do
ventre de Ana, sob o olhar amoroso e zeloso de Joaquim, neste dia Santo e bendito,
uma flor formosa desabrocha e exala seu perfume inebriante sobre toda a criação.
Toda feita de amor. Toda querida no Amor e pelo Amor. Maria é con
cebida sem
mancha, sem mácula, sem pecado. Soubera Deus que aquela criatura é, dentre
todas, singular; incomparável em beleza e perfeição; inigualável em santidade e
justiça; incomparável em fidelidade e confiança. Senhora da Esperança; Refúgio
dos Pecadores; Consoladora dos Aflitos; Saúde dos Enfermos; Auxílio dos Cristãos;
Castelo Bendito onde habita para Sempre o Rei dos reis.
Neste dia de Sua Imaculada
Conceição, um raio de luz invade e afugenta as trevas que reinaram por séculos
e séculos, causando terror e medo no coração dos homens e mulheres de todos os
tempos; uma força de esperança e vida alegra o coração da humanidade inteira:
está próxima a Salvação; o jugo que pesa sobre os filhos de Eva foi finalmente
quebrado; a espada apontada sobre os filhos dos homens será vergada e destruída
pela fidelidade desta humilde criatura. A opressão e a humilhação serão
extintas. O Amor se tornará a Lei. A comunhão será o anseio mais profundo de
cada coração a pulsar sobre a face da Terra. Os aflitos encontrarão consolo; os
desolados, abrigo; nela todos temos uma advogada imbatível; defensora invencível
dos pequenos e últimos; sublime Senhora que a todos ama e a todos defende como Mãe
e Rainha.
Vinde Senhora a esta gente que te
ama e por ti sente-se profundamente amada. Vinde Rainha da Igreja sobretudo aos
corações que, desolados, clamam pelo teu patrocínio. Volvei, Senhora, o teu
olhar para aqueles que estão ocultos ao prepotente e arrogante olhar dos homens.
Vinde quebrar as portas, derrubar as barreiras que nos separam de teu Filho. Ajuda-nos
Maria a redescobrir a beleza e a glória da santidade de vida; renova Senhora
nossa, a vida da Igreja.
Neste dia bendito em que comemoramos
a tua Imaculada Conceição, imploramos-te, nós que peregrinamos neste vale de lágrimas,
sede nosso socorro e ajudai-nos a alcançar as torrentes da Salvação que jorram
do coração aberto de Teu Filho. Reuni, Senhora, num só povo, todas as raças e
nações, todos os povos e línguas; não exista, entre os teus filhos, a divisão e
o ódio, a separação e exclusão que matam o corpo e acorrentam a alma. Correi ao
encontro de cada aflito e comunicai-lhe a Palavra cuja vida ainda pulsa no teu
ventre de Mulher e Mãe. Amém.
Pe.
Antonio Edson Bantim Oliveira
08
de dezembro de 2019
(Homilia da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, em Mauriti-CE)