domingo, 24 de setembro de 2017

O Senhor nos busca: deixemo-nos encontrar por Ele.

"Buscai o Senhor, enquanto pode ser encontrado; invocai-o, enquanto ele está perto." (Is 55,6) A Liturgia deste vigésimo quinto Domingo do Tempo Comum nos põe diante da necessidade de encontro com Deus. O ser-humano, de fato, não é auto-referencial. Sua condição criatural o torna, definitivamente e radicalmente relativo ao seu Criador e não encontra a razão de sua vida senão ligado àquele que lhe é a origem da vida. A soberba, considerado por S. Agostinho como sendo o pecado das origens, é nada mais que a tentativa do ser-humano de se tornar auto-referencial. Daí decorre toda sorte de pecado e toda espécie de males que ferem a humanidade e, por conseguinte, toda a obra da criação. Neste contexto devemos entender o convite do profeta Isaías, referido no início de nossa reflexão. Faz-se necessário ao ser-humano buscar o Senhor, invocá-lo em todas as suas realizações, consciente de que cada um de seus atos é possível porque o Senhor lhe concedeu todas as condições para tal.
A sede insaciável do humano por absoluto, por ir além de seus limites, corrobora com esta Verdade presente nas Sagradas Escrituras. Deus imprimiu a sua marca em nós e nos deixou sedentos d'Ele. Mas o Senhor não nos deixou abandonados à nossa ilusão de grandeza, ao nosso fosso de pecados. O Senhor mesmo veio ao encontro do seu povo. Vendo que o mal nos dominara de tal modo que nos tornara incapazes de conhece-lo e servi-lo, o Senhor, como outrora no Egito, vê, escuta e desce (cf. Ex 3,7-8) para libertá-lo, não mais de um poder político, mas das forças do mal que o impedira de ter acesso às fontes de água fazendo-o peregrinar "sicut cervus ad fontes" (Como corsa que suspira por águas correntes"cf. Sl 41,2).
De fato, no Evangelho deste domingo (Mt 20,1-16a), se encontra a parábola, dita, dos trabalhadores da última hora. Mas o que gostaria de chamar à atenção é o fato de que é o patrão quem sai à procura dos empregados. É ele quem os convida para trabalharem em sua vinha. O Senhor vem ao nosso encontro. Ele conhece a nossa sede porque a estampara em nossos corações e, por isso, nos oferece a Fonte de Água viva de sua misericórdia. Melhor ainda, ele não restringe o seu amor aos que, por primeiro, se deixaram encontrar por ele, mas "o Senhor é bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura". Deste modo, a fé cristã reverte a lógica de um Deus que, sentado em seu trono, por um momento se deixa encontrar pelas suas criaturas, por um momento se faz próximo das mesmas, e professa um Deus que vê, escuta e corre ao encontro de suas criaturas para comunicar-se a elas, estabelecendo uma aliança de amor. Deus de misericórdia e compaixão, de ternura e de bondade; que não faz acepção de pessoas, mas a todos ama indistintamente e distribui as suas graças também indistintamente. Cabendo, unicamente à criatura que está desolada na praça de sua existência, acolher o convite do Senhor e seguir seus passos.
Neste tempo marcado pela presença de poderosos egocêntricos e megalômanos; de crentes que se arrogam donos de seus deuses, proprietários da verdade, a lição do patrão misericordioso se torna deveras eloquente. "Os pensamentos do Senhor não são como os nossos, nem seus caminhos se delineiam por nossas estreitas mentes", seu Amor se estende a toda criatura e a sua misericórdia, de geração em geração.

Deixemo-nos, pois, encontrar pelo Senhor. Permitamo-nos seduzir por Ele. Conservemos o desejo de amá-lo e amar-nos sem conhecer limites, mas apenas arraigados na Verdade de sua Cruz - sinal definitivo de um amor que não se reserva. O Senhor inspire a humanidade à concórdia e à generosidade, à ternura e à compaixão para que todos sejam UM e possamos viver por Cristo, com Cristo e em Cristo, o Amor Eterno do Pai que se fez UM conosco para sempre. AMÉM!!!