Aos poucos,
silenciosamente, desce o véu da noite e acendem-se as inúmeras luzes de natal.
Sons melodiosos, canções cheias de emoção e ternura podem ser ouvidos por toda
parte. Pessoas se abraçam, amigos se reencontram, parentes e amigos se sentam
ao redor de mesas fartas com as coloridas, perfumadas e saborosas comidas da
ceia de Natal. Todos conversam, sorriem, alegram-se com o reencontro. Tudo
parece muito tranquilo e feliz, afinal é noite de natal. As pessoas ficam mais
sensíveis e gentis. É quase como um decreto irrevogável: “Proclama-se que na
noite de Natal toda pessoa deve ser humana. Porém, a partir do dia 26 de
dezembro podem voltar a ser apenas elas mesmas”.
Para muito além de
todos estes acontecimentos está a cena silenciosa do presépio. Aquela antiga
cena de uma família abrigada em um estábulo. Numa noite fria, em algum lugar da
história aquele silêncio foi eternizado. Se olharmos cuidadosamente o presépio
sentiremos, no mais profundo de nosso ser, o grito ensurdecedor daquele
silêncio que nos fere a alma. A silenciosa noite do Natal quer nos reconduzir
para dentro de nós mesmos, para nossa identidade mais profunda, para tudo o que
nos caracteriza como “simplesmente” HUMANOS. É de humanidade que nos fala o
Natal. Deus quer nos dizer o que deveras somos. No-lo diz fazendo-se um de nós.
Mais que isso, faz-se, o Deus Eterno e Onipotente, um conosco. Não vem Deus até
nós a falar de si, vem para falar-nos de nós, para lembrarmos quem somos, o que
somos, para que somos. Mas, infelizmente, nem sempre somos capazes de ouvi-Lo.
Para nos conformarmos com a mensagem silenciosa do Natal, nos travestimos de
humanos; por um momento só, fingimos ser o que deveríamos ser todo o tempo.
Nesta Noite Santa
contemplamos o que de fato somos para que, paradoxalmente, o sejamos de fato. Naquele
estábulo, despojado de toda beleza, riqueza ou poder efêmeros, está o SER
HUMANO em todo o seu esplendor, tal e qual o Senhor o criou. É o exemplar original,
perfeito, completo, desprovido dos adornos que nos acostumamos a confundir
conosco.
Ó noite silenciosa
do Natal, embriaga-nos da sóbria verdade de que estamos desprovidos.
Entorpece-nos de luz, clareza e sobriedade. Despe-nos de nossas falsas vestes e
faz-nos conduzir apenas a luminosa humanidade que se derrama na e da
manjedoura. Ensina-nos a lição grandiosa do teu silêncio que tudo diz. Ó Doce
Menino Jesus que te pões sob o nosso olhar na noite santa do Natal. Ajuda-nos a
perceber o que nos dizes e a viver o que nos mostras. Um Santo e humanizante
Natal para todos!
Pe. Edson Bantim