sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quando há amizade!

Não há amizade...

  • quando os corações batem em rítimos diversos;
  • quando os olhos não conseguem olhar na mesma direção;
  • quando os sonhos não são compartilhados;
  • quando um coração não conhece, em liberdade, um outro coração.
A amizade...
  • é música que dá ritimo à vida e faz sentir-se em sintonia de afeto;
  • é luz que atrai o olhar na direção reta da felicidade e do encontro;
  • é gota de esperança que alimenta e fecunda os corações, enchendo-os de sonhos;
  • é desnudar-se de almas que se fazem transparentes uma à outra em diálogo pleno de encontro e de viva liberdade.
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 21.10.2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

Pérolas de D. Hélder!!!



"Como gostaria de ser leal, discreto e silencioso igual a minha sombra" 
(5 de março de 1959)












Fotografia de Manuel Calado.


"Queria ser uma humilde poça d'água para poder refletir o céu!" (20 de abril de 1947)

Um sentido para cada coisa!

Para o homem que sabe "ler" tudo é símbolo: cada gesto, cada objeto, cada ambiente, cheiro, cor, forma etc, leva o homem à uma realidade que está para além do simples material. Para a inteira natureza a água é simplesmente água, o vento é só vento, o sol é sol, cada coisa é somente aquilo que manifesta visivelmente de si mesma, mas para o homem a água é fecundidade e abundância no campo, purificação e vida nova no templo, frescor e limpeza no banho, etc... Assim, para o homem tudo é referência, tudo é simbólico, tudo é sagrado!
Toda a criação se torna um livro que junto à Bíblia fala de Deus. A criação respira e conta a história de seu Criador.
Da criação ao Criador! Este é o caminho que cada ser humano deve trilhar para encontrar o sentido originário de cada coisa e a Imagem primordial refletida em seu ser desde a sua origem!
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 28/06/2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Crescer de corpo e alma!

Quando ouvimos as expressões “um grande homem” ou “uma pessoa pequena”, não imaginamos uma pessoa de grande estatura, nossa mente não se dá um significado físico a estas expressões. Isto ocorre próprio porque existe uma grandeza e uma pequenez referida à dimensão incorpórea do ser humano. Este não cresce somente fisicamente, mas seu crescimento é medido sobretudo à nível espiritual e moral.
A grande busca de cada ser humano é aquela de crescer harmoniaosamente em corpo e alma. No Evangelho segundo Lucas, esta dimensão espiritual do crescimento vem chamado de «sabedoria e graça». De fato se diz que “Jesus crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,52), ou seja, em perfeita harmonia de corpo e alma.
O crescimento moral ou de caráter vem chamado comummente de «amadurecimento». Contribuem ao amadurecimento uma série de fatores relacionados seja à índole individual, seja ao ambiente social, familiar, etc com o qual a pessoa interage.
Sem a pretensão de fazer psicologismo ou longos discursos sobre a formação do caráter, gostaríamos sobretudo de dar algumas dicas que possam ajudar na identificação da própria maturidade, visto que consideramos que cada pessoa é in primis responsável pelo seu processo de crescimento pessoal e que desse crescimento depende a realização e a felicidade de cada pessoa a nível individual e social.
Elencamos algumas características que podem ajudar a avaliar os pontos fortes e frágeis de modo que se possa conservar aqueles positivos e amadurecer aqueles imaturos.
A pessoa madura geralmente consegue desenvolver uma realística capacidade de crer nas próprias potencialidas e naquelas dos outros;  É capaz de fazer escolhas autonomamente depois de uma clara e responsável análise de cada uma das opções, assumindo a responsabilidade das próprias decisões; Há um profundo conhecimento de si mesma, dos próprios valores e limites, aceitando a própria identidade, amando o próprio corpo e procurando desenvolver ao máximo as qualidades morais; Há uma capacidade de agir em plena liberdade, sem deixar-se condicionar por outras pessoas ou situações, nem mesmo pelos próprios impulsos, agindo de modo ponderado e são; Há a capacidade de estar consigo mesma sem medo da solidão, sem deixar contudo de ter um coração aberto à relações profundas, alicerçadas na confiança e no respeito recíprocos, para além da superficialidade; Há espírito criativo e não se deixa “enferrujar”, abrindo-se à possibilidade de aprender sempre novas coisas e partilhar as próprias; Há profunda harmonia consigo mesma, sabendo o sentido de cada coisa que é e que faz, dá sentido ao próprio existir em relação com Deus, consigo mesma e com os outros; Há a capacidade de agir de modo espontâneo, sem medo de expor as próprias convicções e de escutar as dos outros de modo respeitoso, sendo autêntica e sincera.
Já a pessoa imatura há baixa auto-estima e por isso é incapaz de crer em si mesma e nos outros; É insegura e tem medo de fazer escolhas, apelando sempre à opinião dos outros e ao mesmo tempo incapaz de confiar plenamente em alguém, perde-se entre mil opiniões sem consiguir jamais decidir qual caminho seguir; Não consegue identificar a si mesma posto que se encontra imersa em meio a milhares de personagens que deve representar para satisfazer aos outros; Grande dependência e incapacidade de assumir a responsabilidade pelo próprio destino, atribuindo sempre aos outros a culpa pelos próprios fracassos ou mesmo o mérito pelas próprias vitórias; Transforma a alegria de estar consigo mesma em solidão ou isolamento doentio e repleto de medo do confronto e de intimidade, não conseguindo desenvolver relações profundas e duradouras; Aridez intelectual e imaginativa, vivendo da imitação dos outros ou seguindo os modismos, sentindo-se sempre inadequada e vazia; Vive em constante ambiguidade de modo que não se sabe mais quando diz a verdade ou quando está representando; Habitua-se a fazer “jogo duplo” e agir de maneira falsa somente para manter a imagem que construiu para agradar a quem lhe interessa; Não consegue dar sentido à prpópria vida e vive a vida como o conjunto de vários momentos sem direção e vazios de convicções e de valores; Em estado grave alguém pode chegar ao limite de perder-se e cair no desespero e no sentimento de extremo abandono de Deus e dos outros.
O reconhecimento da própria fragilidade e dos próprios valores é um passo importante para o crescimento pessoal e é indicador de um profundo e sincero conhecimento de si mesmo e de liberdade em relação ao próprio futuro.
Não se pode esquecer que, obra-prima do Divino Criador, o homem é chamado a concluir em sua liberdade a obra iniciada por Deus, seguindo as intruções de sua Palavra e segundo a inteligência de seu Amor.
Em uma de suas meditações, Dom Hélder Câmara escreveu: “Quando passo diante dos homens poderosos, dos funcionários da polícia, rio feliz, porque ninguém pode descobrir o divino contrabando que levo dentro de mim; o invisível Passageiro, cuja presença é tão discreta que só o olhar dos anjos e dos homens de coração puro conseguem enxergar”. Descobre, pois o mistério do teu interior e vai em busca do mistério Deus escondido nos outros. Garimpa os corações duros e cobertos de pedra para descobrir a riqueza que Deus escondeu em seus sub-solos, ajoelha-te e contempla os corações límpidos e as almas elevadas para que possas sentir-te visitato por Deus e aprende que certas criaturas são como a cana-de-açúcar, mesmo colocadas na prensa e completamente pisoteadas e humilhadas, só sabem dar doçura. Desafio-te a fazer o mesmo!
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 27/06/2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Deus é Cantador (Domingo da Santíssima Trindade)

Igreja da Transfiguração no Monte Tabor

Ao entardecer, o crepúsculo faz descer o seu véu colorido sobre o céu como que a preparar o repouso diário do astro rei. Nesta mesma hora, em um pequeno casebre, no tórrido sertão nordestino, um senhor de barbas brancas, rugas na testa e mãos calejadas toma rua rabeca, senta-se no alpendre da casa tendo ao redor  sua família e começa a entoar aquela velha canção que aprendeu ainda pequeno e que, mesmo antiga, nos ouvidos dos que ama parece ser sempre nova. Voz turva, dedilhado forte, expressões aparentemente rudes e um coração cheio de amor. Enquanto canta, escapa de seus olhos uma lágrima teimosa que desce queimando e seu rosto já marcado pelo calor do sol. Lá dentro seu coração, silencioso, guarda o motivo da lágrima, da canção, do olhar distante.
Ao contemplar esta cena penso em Deus. Vejo-o sentar-se na varanda de cada casa, a entoar velhas canções e a se emocionar com as lágrimas de seus filhos. Vejo Deus Conosco, a se fazer peregrino em nossos caminhos, a nos mostrar a via descendente que nos conduz à verdadeira grandeza, a sorrir com cada homem e mulher, com cada criança e ancião, a chorar em cada recanto do mundo com os que foram privados da tapera, da família, da canção e para quem o crepúsculo se reveste de tristeza. Então penso Deus em nós, que nos lança em direção dos pequenos, que nos dá a possibilidade de transformar-lhes a vida, que nos ensina sobre a canção, sobre o colorido do entardecer, sobre o Cantador sentado ao alpendre, sobre o peregrino que nos acompanha e sobre nós mesmos nesta história.
Deus é Cantador. Também ele no crepúsculo da história humana, quando as cores do entardecer dão lugar a escura noite, constrói sua tapera entre as nossas (Jo 1,14), senta-se (Jo 4,6b) no alpendre de nossos corações e nos ensina a canção do amor que liberta de toda escravidão. Enfim, quando cansados e fatigados pelas vicissitudes de nossa história e tremulam as velhas paredes de nossos casebres ele vem e faz morada em nós, nos faz ouvir a velha canção, admirar o entardecer, verter a lágrima que lava a alma e a compreender, por sua companhia, que Deus, para tanto amar, não podia ser só. Ele é Letra e Música e Cantador.
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 16/06/2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Método para rezar com a Palavra de Deus

Entro em oração:
Pacificando-me:
·         Com um momento de silêncio;
·         Respirando lentamente;
·         Pensando que encontrarei o Senhor;
·         Pedindo perdão das ofenças cometidas e perdoando sinceramente os males que sofri.
Colocando-me na presença de Deus:
·         Faço o Sinal da Cruz (lentamente e meditando cada palavra);
·         Medito o Pai Nosso em silêncio, procurando encontrar-me com o olhar de Deus;
·         Faço um gesto de reverência;
·         Inicio a oração de joelhos (ou como me sinto melhor), pedindo ao Pai, no nome de Jesus, o Espírito Santo, a fim de que o meu desejo, a minha vontade, a minha inteligência e a minha memória sejam ordenados ao seu serviço e ao seu louvor.
Me recolho:
ü  Imaginando o ambiente em que ocorre a cena que lerei.
Peço ao Senhor aquilo que desejo:
ü  É o dom que aquele texto quer me conceder: corresponde a quanto Deus disse e fez naquele texto.
Medito e/o contemplo a cena:
ü  Lendo o texto lentamente, ponto por ponto;
ü  Sabendo que atrás de cada palavra está o Senhor que me fala;
ü  Usando: a) a memória para recordar; b) a inteligência para entender e aplicar à minha vida; c) a vontade para desejar, pedir, agradecer, amar, adorar.  
Importante: Não tenho pressa; nenhuma árvore produz frutos instantaneos; è importante sentir e saborear interiormente; repouso pazientemente at éque a Palavra de Deus fecunde a minha vida e produza fruto. Preciso confiar n’Aquele que me ama com amor infinito e fiel. Com o tempo meu coração começa  e encontrar inspiração, paz e consolação. Colherei os frutos quando, deixando de refletir sobre a Palavra de Deus, começarei a falar com Deus e a fazer de minha vida uma menage do amor de Deus.

Conclusão:
ü  Com um diálogo com Deus, de amigo para amigo, sobre aquilo que meditei.
ü  Termino rezando a Oração do Senhor;
ü  Saio lentamente da oração.
Importante: Uma oração profunda è aquela que é feita com muita suavidade. Que é capaz de sentir a brisa soave do amor de Deus que soa em nossos corações como hino de amor, como chuva fina que rega pouco a pouco o deserto de nossa vida.
Boa oração!
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 15/06/2011

Amor e Matrimônio

C’est le temps que tu as perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante*(Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez dela tão importante)* (Exupéry, Le Petit Prince)

O Amor è a grande aventura da pessoa humana em sua busca de realização. É a prova mais evidente de que fomos criados para a comunhão e não para a solidão. É centelha divina no coração humano. É sinal da nossa filiação divina. O amor é o sentimento que exprime mais perfeitamente a relação entre Deus e o seu povo em toda a história da salvação, bem como é o critério de leitura e compreensão dos textos bíblicos que ilustram a história do Povo de Deus.
Como todos os sentimentos, o amor é involuntário. Não se escolhe amar, simplesmente acontece. Como eu não posso escolher e decidir se o sol vai nascer, se as estrelas vão brilhar esta noite, se a lua vai estar clara, se vai cair a chuva... enfim, como tudo que é natural e belo, o amor também vem de Deus. Mas, assim como posso escolher não tomar sol, não olhar as estrelas, ignorar a luz do luar, usar um guarda chuva para não se molhar, posso também escolher ignorar o amor. Ele porém sempre vai estar lá, pois não depende de minha vontade para existir, mas depende de minha vontade para realizar-se em minha vida. Assim, Deus nos dá o amor mas nós é que decidimos o que fazer com ele.
Como disse, o amor é uma grande aventura. E, como toda aventura, impõe riscos, causa medo, dá aquele friozinho na barriga... exige de nós: fé. Fé no amor, fé em quem se ama e fé em nós mesmos, na nossa capacidade de sair... pois o amor é antes de tudo, saída – ninguém vive aventuras ficando em casa. Devemos ser capazes de sair de nós mesmos e andar ao encontro do universo do outro, pois amar é encontrar-se.
O amor nos permite perceber aquele detalhe que torna cada pessoa diferente de todas as outras, especial, incrivelmente amável e desejável. E quando descobrimos algo assim, significa que já não moramos em nós mesmos, mas a nossa vida armou a sua tenda na vida de quem amamos. Para isso é preciso ser paciente, gastar tempo... cumprir todos os ritos preliminares... sim, porque o amor exige ritos... A imagem de Deus moldando o homem do barro e dando-lhe vida, é expressão sublime de quem ama. Quem ama molda em sua alma, com a argila de seus sentimentos e verdades profundas, a pessoa que ama, depois dá-lhe vida com o sopro fecundo de seu prórpio amar. Assim Deus os criou, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou. E viu que era muito bom. (cf. Gn 1, 27.31).
A frase de Exupéry em “O Pequeno Príncipe”, (que pus no início do texto) expressa a necessidade do tempo e dos ritos para a realização do amor. Se quisermos viver intensamente o amor, é preciso estarmos dispostos a gastar tempo com quem se ama. Quando gastamos tempo, até mesmo olhando, lembrando a pessoa amada, vamos aos poucos descobrindo o seu valor especial para a nossa vida. Descobrimos o que a destingue de todas as outras pessoas e que nos dá razões para crer que nela encontramos o terreno fértil e único para plantar a nossa alma e realizar a nossa vida como vocação divina ao amor fecundo e eterno. “Que tem o teu amado mais que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é o teu amado mais que os outros, para assim nos conjurares?” (Cântico dos Cânticos, 5,9).
Quando se descobre finalmente a resposta desta pergunta, está na hora de unir o nosso caminho ao caminho daquela(e) que amamos e por quem somos amados. Agora se deve caminhar juntos e o amor semeado em minha vida por Deus como pulsão, motivação, se torna VOCAÇÃO. Chamado à comunhão, ao testemunho. Este é talvez o passo mais importante, pois a partir de então, aquele amor escondido dentro de mim, que me realizava individualmente se torna grande demais para caber em mim e precisa derramar-se em outra vida que me acolhe e também me preenche de si mesmo. “Passei junto de ti e ti vi. Era o teu tempo, tempo de amores, e estendi a aba da minha capa sobre ti e ocultei a tua nudez; comprometi-me contigo por juramento e fiz aliança contigo e te tornaste minha”. (Ez 16, 8)
O relato do amor de Deus com o seu povo no livro do profeta Ezequiel demonstra a grandeza do amor de Deus, do qual o amor conjugal é imagem. Também o casal com a aba da capa (vida) devem ser capazes de esconder a nudez (solidão, infelicidade) um do outro, num encontro de aliança e compromisso incondicional e desinteressado. Para isso, Deus nos concedeu em Jesus, a graça sublime de que necessitamos para poder viver com fidelidade o amor–vocação ao qual nós fomos chamados em Sua infinita bondade, para que pudéssemos realizar a nossa felicidade e ao mesmo tempo dar testemunho de sua presença amorosa em nós.
Pe. Edson Bantim
Roma-It,15/06/2011

Consagração dos Sacerdotes à Maria (Bento XVI)

Consagração dos Sacerdotes à Maria por ocasião da visita ao Santuário de Fátima em 12 de maio de 2010 (Bento XVI)


Mãe Imaculada,
neste lugar de graça,
convocados pelo amor do vosso Filho Jesus,
Sumo e Eterno Sacerdote, nós,
filhos no Filho e seus sacerdotes,
consagramo-nos ao vosso Coração materno,
para cumprirmos fielmente a Vontade do Pai.

Estamos cientes de que, sem Jesus,
nada de bom podemos fazer (cf. Jo 15, 5)
e de que, só por Ele, com Ele e n’Ele,
seremos para o mundo
instrumentos de salvação.

Esposa do Espírito Santo,
alcançai-nos o dom inestimável
da transformação em Cristo.
Com a mesma força do Espírito que,
estendendo sobre Vós a sua sombra,
Vos tornou Mãe do Salvador,
ajudai-nos para que Cristo, vosso Filho,
nasça em nós também.

E assim possa a Igreja
ser renovada por santos sacerdotes,
transfigurados pela graça d'Aquele
que faz novas todas as coisas.

Mãe de Misericórdia,
foi o vosso Filho Jesus que nos chamou
para nos tornarmos como Ele:
luz do mundo e sal da terra
(cf. Mt 5, 13-14).

Ajudai-nos,
com a vossa poderosa intercessão,
a não esmorecer nesta sublime vocação,
nem ceder aos nossos egoísmos,
às lisonjas do mundo
e às sugestões do Maligno.

Preservai-nos com a vossa pureza,
resguardai-nos com a vossa humildade
e envolvei-nos com o vosso amor materno,
que se reflecte em tantas almas
que Vos são consagradas
e se tornaram para nós
verdadeiras mães espirituais.

Mãe da Igreja,
nós, sacerdotes,
queremos ser pastores
que não se apascentam a si mesmos,
mas se oferecem a Deus pelos irmãos,
nisto mesmo encontrando a sua felicidade.
Queremos,
não só por palavras mas com a própria vida,
repetir humildemente, dia após dia,
o nosso « eis-me aqui».

Guiados por Vós,
queremos ser Apóstolos
da Misericórdia Divina,
felizes por celebrar cada dia
o Santo Sacrifício do Altar
e oferecer a quantos no-lo peçam
o sacramento da Reconciliação.

Advogada e Medianeira da graça,
Vós que estais totalmente imersa
na única mediação universal de Cristo,
solicitai a Deus, para nós,
um coração completamente renovado,
que ame a Deus com todas as suas forças
e sirva a humanidade como o fizestes Vós.

Repeti ao Senhor aquela
vossa palavra eficaz:
« não têm vinho » (Jo 2, 3),
para que o Pai e o Filho derramem sobre nós,
como que numa nova efusão,
o Espírito Santo.

Cheio de enlevo e gratidão
pela vossa contínua presença no meio de nós,
em nome de todos os sacerdotes quero,
também eu, exclamar:
« Donde me é dado que venha ter comigo
a Mãe do meu Senhor?»
(Lc 1, 43).
Mãe nossa desde sempre,
não Vos canseis de nos visitar,
consolar, amparar.
Vinde em nosso socorro
e livrai-nos de todo o perigo
que grava sobre nós.
Com este acto de entrega e consagração,
queremos acolher-Vos de modo
mais profundo e radical,
para sempre e totalmente,
na nossa vida humana e sacerdotal.

Que a vossa presença faça reflorescer o deserto
das nossas solidões e brilhar o sol
sobre as nossas trevas,
faça voltar a calma depois da tempestade,
para que todo o homem veja a salvação
do Senhor,
que tem o nome e o rosto de Jesus,
reflectida nos nossos corações,
para sempre unidos ao vosso!

Assim seja!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amou-nos até o fim!

“Tendo amado os seus, amou-os até o extremo” (Jo 13, 1b) As palavras do Evangelista João, ao iniciar o relato do lava-pés, nos ajudam a compreender o mistério que  celebramos na sexta-feira da paixão. A morte do Senhor nos causa, simultaneamente, espanto e encanto. Espantoso é o amor que sem nada receber de prêmio tudo entrega ao ser amado. Espantoso é o Rei e Senhor que morre para que vivam os escravos. Espantoso é o Deus que se permite “humilhar-se até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8) a fim de que vivam suas criaturas.
Encantador é o coração que se deixa rasgar pela lança da ingratidão e do ódio a fim de fazer jorrar para seu algoz a fonte de vida eterna. Encantadoras são a coragem e a liberdade de quem não poupa a própria vida para defender quem ama.
Sem dúvidas celebramos hoje a solenidade do mais Belo Amor.
A morte de Jesus Cristo é um poema de amor à humanidade. Quem poderia resistir àquele canto iniciado às três da tarde daquela sexta-feira? Como esconder-se para não ouvi-lo? “Seu som ressoa em toda a terra, por todo canto se escuta a sua voz”(Sl 18). O aparente silêncio da morte se torna um grito aterrador que invade os ouvidos de homens e mulheres e atinge o mais profundo de seus corações.
Diante do Senhor, aparentemente vencido, contemplamos a vitória da humildade sobre o orgulho, do amor sobre o ódio, da doação sobre o egoísmo, e, contraditoriamente, da vida sobre a morte.
Contemplamos o caminho descendente do amor de Deus. Descendo ao mais profundo, foi elevado ao mais alto.
Vindo a nós, Ele, Luz Verdadeira, quis iluminar todos os recônditos de nossa vida, desde as alegrias das nossas festas (Cf. Jo 2,1ss) à escuridão de nossa morte. O Senhor da vida desce à mansão dos mortos e lhes garante a salvação. Assim, “o Justo que morre condena os ímpios que vivem” (Sb 4,16) “As multidões vêem, mas não entendem, nada disso lhes ocorre a mente: que graça e misericórdia são para seus eleitos e sua visita para seus santos” (Sb 4, 15).
O testemunho de amor de Cristo nos arrasta, nos constrange ao abandono de nossas vidas em suas mãos. Ao amor que arrasta, disse o místico São João da Cruz, não se pergunta aonde vai. “Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim” (Jo 12 32). A cruz de Cristo nos atrai a todos. É o sinal da nossa redenção, é o sinal do Amor de Deus por nós.
Quem poderia resistir a esse amor? Que coração resistiria a tamanha doação? Que prova maior necessitamos do amor de Deus? Como não se sentir constrangidos a amar diante da cruz do Senhor?
Jesus descido da cruz, morto diante de nossos olhos revela o tremendo mistério do coração de Deus, de seu amor e de sua fidelidade. “Passei junto de ti e ti vi. Era o teu tempo, o tempo dos teus amores, e estendi a aba de minha capa sobre ti e ocultei a tua nudez; comprometi-me contigo por juramento e fiz aliança contigo te tornaste minha. (Ez 16,8). Já a esposa encontra-se diante do sepulcro do esposo. É hora de contemplar a fidelidade do noivo. É hora de se deixar renovar pelas lágrimas que sinalizam nossa infidelidade denunciada pelo Cristo morto ante os nossos olhos.
A Igreja, ao celebrar a morte de Jesus Cristo a cada ano é chamada a mergulhar novamente na chaga de Seu coração traspassado e, entrando com ele no túmulo, sair de lá renovada, pura, sem mancha nem ruga para ser apresentada ao Pai no Dia que o Senhor fez (Cf. Ef 5, 27).
Olhar para o Senhor morto nos constrange a todos a sermos testemunhas de seu amor, mensageiros de sua entrega, missionários de sua fidelidade, discípulos, aprendizes de seu jeito de amar.
O verdadeiro discípulo traz em sua vida as marcas profundas de seu Mestre. A marca de Cristo é seu testemunho extremo de amor. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35).
Deixemo-nos, pois, embeber por este amor, deixemos que a seiva desta Vide, à qual estamos ligados como ramos, corra por nossas veias a fim de que produzamos saborosos frutos de vida e salvação para o mundo. “Meu Pai é glorificado, diz Jesus, quando produzis frutos e vos tornais meus discípulos” (Jo 15, 8).
Contemplemos Jesus diante de nós e não sejamos insensíveis a seu amor. Que não se endureça o nosso coração. Permitamos que também nosso coração seja rasgado por Deus, invadido por sua graça, transformado por seu amor incondicional. Aproximemo-nos do Senhor com os corações ajoelhados. Imitemos o seu exemplo. Ouçamos mais uma vez a canção de amor cantada pelo silêncio de sua morte. A melodia de sua entrega acalenta as nossas dores, sara nossas chagas, nos dá um coração novo. Deixemos que se escreva em nossa vida a letra desta música. Sejamos fiéis. Permaneçamos no seu amor (Cf. Jo 15, 9b).
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 14/06/2011

Vocação e missão da família cristã!

Entre as diversas vocações concedidas por Cristo à Igreja está a Família, lugar da formação dos novos filhos de Deus e da realização, no amor, dos que se uniram com os laços do matrimônio. A Igreja compreende que “a salvação da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligada com a favorável situação da comunidade conjugal e familiar” (Gaudium et Spes, nº 47)
Compreender o matrimônio como vocação significa dizer que este não nasce simplesmente da vontade humana, mas constitui, em primeiro lugar um convite, cum chamado de Deus. “O próprio Deus é o autor do matrimônio”. (GS, 48). Cristo abençoou este amor indiviso como sinal de seu próprio amor pela Igreja, de modo que a família humana possui como primeiríssimo dever, anunciar o Amor de Cristo pelo testemunho de unidade, fidelidade e indissolubilidade.
Como toda vocação, a Família também possui uma missão. É chamada a ser missionária do Amor de Cristo e da Igreja. Testemunha da fidelidade e da entrega sem reservas do Filho de Deus. Assim, sua missão de anúncio do Evangelho se dá não tanto pela palavra, quanto pelo Testemunho de vida. O amor conjugal vivido em sua mais pura expressão e dignidade já é a realização da missão da família cristã.
A Família Cristã, portanto, é o lugar onde são gerados os discípulos e missionários de Jesus Cristo. Nesta comunidade de Amor se deve experimentar verdadeiramente os frutos da Paixão redentora do Senhor e suas conseqüências para a vida do ser humano e do mundo. Nela o novo homem deve ser forjado à imagem e semelhança do próprio Cristo.
Pe. Edson Bantim
Roma-It, 14/06/2011