domingo, 21 de agosto de 2016

Bem-aventurada aquela que acreditou!

Isabel exprime com clareza a bem-aventurança mariana. De fato, o que torna grande a Santa Virgem Mãe do Senhor é a sua fé inquebrantável. Maria permanece fiel e crente até o momento mais extremo. Na cruz sua fé é posta à prova, mas o seu amor sustenta sua fé e a Virgem da Esperança viu realizar-se aquilo que o Senhor lhe prometera.
Maria se torna mestra da vida de fé. Modelo sublime de escuta e vivência da Palavra.
A verdadeira devoção mariana é, pois, aquela que se baseia na imitação da Virgem Maria em sua fé inabalável. Quando a devoção é constituída apenas de ritos e orações vazias de vida, falta o Espírito que fez de Maria a Toda Agraciada e a nossa devoção a Maria se torna insulto à sua vida de "humilde serva" do Senhor, a Mulher que Acreditou, diferente daquela que "não acreditou" na Palavra. Maria nos conduz a Jesus sendo exemplo mais perfeito de fidelidade a Deus.
Que o Senhor envie sobre nós o seu Espírito para que possamos ser-lhe fiéis em nossa vida de modo que cada nossa escolha seja resposta corajosa ao Amor infinito do Senhor que se compromete conosco até a morte. Mãe de todos os homens porque mãe do verdadeiro Homem, no qual todos encontramos a Verdade mais profunda sobre o humano. Maria, mãe consoladora nos acalente em seu coração materno para que as dores e aflições deste tempo não nos afastem do verdadeiro amor e da verdadeira vida.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Perdão e auto-justificação!



"Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo!" (Mt 18,26)
A experiência da misericórdia infinita de Deus só é possível diante do reconhecimento de nossa total incapacidade de auto-justificação. Jesus põe o perdão aos inimigos como um dos elementos que identificam os seus discípulos, porém, não pode perdoar quem não experimenta em si mesmo a necessidade e o efeito do perdão gratuito de Deus.
O empregado da parábola de Mateus não pede que o patrão tenha misericórdia e o perdoe. Ele imagina que com um pouco de tempo disponível pode pagar "tudo" ao patrão e não ficar-lhe devendo "favores", por mais que o evangelista tenha alertado que a dívida custaria o preço de sua vida e da vida de sua família, bem como de todos os seus bens. A ilusão de poder auto-justificar-se não deixou que aquele empregado compreendesse quão grandiosa foi a generosidade do patrão e, portanto, não conseguiu reproduzir tal amor quando se encontrou na mesma situação com um companheiro que lhe devia uma pequena quantia.
A maioria das pessoas não consegue perdoar ou acolher com generosidade a fragilidade dos irmãos porque nunca experimentaram tal amor. São de tal modo arrogantes que o orgulho se lhes endurece o coração e não se permitem ser amados gratuitamente. Os mesmos se pensam tão dignos do amor que não percebem que o amor não é uma mercadoria que compramos com nosso mérito, mas é dom total de um coração generoso. O perdão não pode nascer em um coração orgulhoso e prepotente ele é fruto da árvore bendita da humildade do coração de quem se sabe sempre necessitado da Graça infinita do Deus-Amor.
Que o Senhor nos fortaleça com seu Espírito para que compreendamos quão grandiosa é a sua misericórdia para conosco e, experimentado o amor generoso do Senhor, possamos nos tornar instrumentos de misericórdia e perdão na vida de nossos irmãos e irmãs.


domingo, 7 de agosto de 2016

O pequenino rebanho de Jesus!

"Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino." (Lc 12,32)
Jesus chama de pequenino rebanho aqueles que lhe permanecem fiéis não obstante as dificuldades, por vezes demasiado pesadas. O rebanho de Jesus é pequenino. Ele não procura e nem tem muita confiança nas multidões. A multidão é manipulável, segue o pregador do momento, dá atenção a quem grita mais alto e só ouve o que lhe convém. O pequenino rebanho de Jesus lhe é sempre atento. Conhece a voz do Pastor e não desvia o olhar de sua cruz, testemunho mais alto de seu Amor.
Vivemos um tempo de descartáveis... cultura líquida, diria o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Líquida porque adaptável, completamente e exageradamente "flexível", ao ponto de não possuir alguma identidade reconhecível. O mesmo tem ocorrido com a experiência de fé em Cristo. Cada vez mais se manifesta uma fé "líquida", sem alguma consistência, demasiado abstrata, beirando o gnosticismo dos primeiros séculos. Jesus convida-nos a sermos coerentes com nossa escolha de fé. A fé cristã é um modo de viver, um estilo de vida que se inspira na vida mesma de Cristo e se põe diante do mundo como uma opção clara à mediocridade, em todos os âmbitos sociais, que se tem instalado em nosso tempo. O apelo à vigilância é mais um despertar para a própria natureza do cristianismo, que não constitui-se de ritos ou crenças, mas, sobretudo, caracteriza-se por empreender um modelo de existência plenamente humana e aberta ao transcendente, evitando qualquer autorreferencialismo ou mediocridade moral.
Que o Senhor suscite em nossos corações a capacidade de ir além de um comportamento mediano e nos conceda a coragem de acreditar nos ideais humanos mais elevados e procurar realizá-los em nossa vida, tornando-nos membros deste "pequenino rebanho" que é um sinal de esperança neste mundo marcado pela barbárie cultural e pela perca de confiança no ser humano e no futuro do mundo.

sábado, 6 de agosto de 2016

A oração nos configura a Cristo

Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. (Lc 9,29)
Hoje  celebramos a Transfiguração do Senhor que, no Evangelho segundo Lucas, se dá em clima de oração! Para Lucas, de fato, é a oração a mover as ações de Jesus. A oração
é o diálogo fecundo do Senhor com o Pai que o enviou para a salvação do mundo.
Para nós cristãos, a oração é a via de acesso ao coração de Jesus, é o caminho de elevação da alma para o encontro com o seu Criador.
A oração nos transfigura. Nos confere a nossa verdadeira imagem. Nos assemelha a Cristo, Filho predileto do Pai. A vida dos cristã se torna estéril e hipócrita quando não é regada e fortalecida pela oração constante. Somos chamados a fazer de nosso dia um hino de Louvor a Deus. Cada hora, diria mais, cada segundo de nossa existência deve estar fecundado com a oração, regada pela misericórdia de Deus que se faz torrente de vida em um coração orante.
A celebração da transfiguração do Senhor deve nos impulsionar à conformação de nossa vida com a Vida de Cristo. Só assim poderemos dizer-nos, de verdade, cristãos.
Cada pessoa batizada em Cristo deve reservar ao menos 15 minutos por dia para dedicar-se à Escuta de Jesus. Eis alguns passos importantes:
1. Escolha um lugar adequado: confortável, reservado, silencioso e onde não possas ser interrompido;
2. Ponha uma música instrumental (Taizé é uma boa opção);
3. Suplique ao Senhor que derrame sobre ti o Seu Espírito. É sempre o Espírito que deve orar em nós, por Cristo ao Pai;
4. Percorra a sua vida e procure perceber os sinais que Deus deixou em sua história desde o seu último encontro orante com Ele. Então, Louve com Gratidão ao Senhor por todas as maravilhas realizadas em ti (podes usar o Magnificat ou uma oração espontânea);
5. Escolha um texto da Palavra de Deus (pode ser um salmo, o Evangelho do dia ou mesmo um outro texto à escolha), leia como quem escuta com atenção, coloque sua vida diante da Palavra e Medite para descobrir o significado desta Palavra em tua vida, neste momento em que estás vivendo;
6. Em silêncio (sob o som da música instrumental) Contemple o Senhor que se apresenta a ti como torrente inesgotável de amor. Deleite-se neste contemplar, aproveite a presença de Cristo, deixa-te consolar e amar por Ele;
7. Em um caderno especialmente escolhido, escreva uma prece ou descreva a tua experiência de oração na presença de Cristo (te ajudará a fixar e a realizar o que experimentaste);
8. Reze a oração do Senhor (Pai Nosso) pausadamente, meditando cada palavra (lembra-te que estas palavras saíram dos lábios de Jesus e agora Ele as põe em teus lábios);
9. Recorra ao auxílio da Virgem Mãe de Jesus (a Mulher Orante) e peça-lhe o dom da comunhão de vida com Cristo;
10. Despeça-te do Senhor e deixe marcado o teu próximo encontro com Ele (é importante marcar o horário e local para te lembrares que é verdadeiramente um encontro entre ti e o Senhor).
Siga estes 10 paços e tenhas um boa experiência de oração.
Que o Senhor nos estimule, pela ação de Seu Espírito, a uma fecunda vida de oração que ressoe em nossa relação com Ele e com os irmãos.


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um coração que seja puro (Sl 50)

A perpetuação da banalidade e a mediocridade com que a vida humana é considerada em nosso tempo, destituindo-a de qualquer possibilidade de um projeto permanente, leva a uma consideração da "pureza" bíblica como se a mesma fosse um mito, ou mesmo um ideal do qual se fala com entusiasmo em alguns contextos religiosos, mas que, de fato, não a encontramos em qualquer realidade.
A descrença na possibilidade do ser humano de alcançar a "pureza de coração" é a raiz do abandono do espírito humano à corrupção e ao mal. Esta é a forma mais eficaz de destruição do espírito humano: destituir as pessoas da fé em seu potencial de bondade e na sua capacidade de conservar uma dignidade incorruptível.
Para a fé cristã, contudo, a pureza de coração, constitui o caminho mesmo de identificação com o Mestre. Aqui não se trata, como alguém possa interpretar, na "não-pecabilidade", ou seja, na ausência total de queda, mas constitui aquela esperança fundamental na Graça redentora de Cristo que realiza no ser humano a obra originária do Pai pela efusão do Espírito Santo que purifica-nos do mal e nos reveste da beleza moral do Redentor.
Que a súplica do salmista: "Dai-nos um coração que seja puro" não se perca por nossa incapacidade de compreensão do amor de Cristo que nos converte e salve nem por nossa descrença nas capacidades humanas de auto-superação e de construção em si do projeto humano para o qual é chamado pelo criador!
Dá-nos, Senhor, um coração que seja puro. Sobretudo, faz-nos acreditar que cada ser humano pode alcançar, com a tua Graça, o mais alto nível de perfeição, realizando o teu pedido: "Sede perfeitos como vosso pai é perfeito (Mt 5,48).