terça-feira, 6 de março de 2018

Quaresma: tempo de encontrar Deus para encontrar a si!


“Voltai para mim de todo o vosso coração (Jl 2,12)”
Iniciamos a quaresma com este convite do Senhor, feito-nos através do profeta Joel. O tempo quaresmal é, portanto, um tempo de retorno, um tempo de retomada da própria vida, da retomada de nossa condição de filhos e filhas de Deus. Um retorno à nossa condição Humana primordial. Tal processo, contudo, exige de nós um longo percurso de travessia, onde intensos e dolorosos combates necessitam ser travados. Batalhas contra inimigos externos e internos a nós. O nosso tempo está repleto de sinais de desumanidade. O pecado, que rouba o ser-humano de si mesmo e o faz escravo de sua própria arrogância, necessita ser combatido a partir de dentro. A transformação que queremos e que necessitamos começa com o “cair em si” de cada pessoa humana. A violência, a corrupção, a manipulação de populações inteiras e a dizimação de raças e nações são sinais do escândalo de nossa prepotência.
No centro do livro do Êxodo (que é o horizonte mistagógico da quaresma cristã), no capítulo 20 (o Êxodo tem 40 capítulos) no versículo 13 (o cap. 20 tem 26 versículos), está o mandamento «Não matarás». No coração da mensagem que Deus quis que o seu povo aprendesse ao longo do deserto está portanto o valor absoluto da vida. «Escolhe, pois a vida» (Dt 30,19). O povo de Deus experimentara duramente um poder de morte. Teve seus filhos arrancados de si e assassinados; teve sua liberdade cerceada; teve sua fé constrangida. Sobre a morte tudo aprendera. Deus quisera, pois, que aprendessem sobre a Vida. A quaresma é, portanto, tempo de escolher a Verdadeira Vida, que se revela em Jesus Cristo. Não se trata de opções políticas superficiais ou de compromissos com poderes deste mundo ou adesão a ideologias pseudo-pacifistas. Trata-se de assimilar e assumir a Verdade que é Cristo e fazer dele  o Caminho cujo fim é a plenitude da Vida. Trata-se de partir de Cristo para n’Ele realizarmo-nos como verdadeiros Humanos. Por Cristo (Verdade), com Cristo (Caminho) para chegarmos em Cristo (Vida).
Porém, não se pode chegar à meta se não se sabe de onde se parte. Se vivemos alheios ao mundo que nos circunda e ao nosso mundo interior, nunca saberemos o que precisamos abandonar, que mares devemos atravessar, que deserto é preciso superar para chegarmos à conquista de nossa liberdade. Por isso a quaresma é tempo de discernimento, de contemplação, de revisão de vida e, só depois, de conversão e de Vida nova. Não se chega à Páscoa sem passar pela travessia quaresmal.
Já nos encontramos à metade do caminho. Falta pouco para chegarmos à Terra sagrada de nossa natureza redimida em Cristo. Não percamos tempo. É urgente a nossa conversão. Escolhe, pois, viver. Acolhe, pois, a Vida e faz viver a ti e a todos os teus semelhantes. Na escuridão do mundo, sê o farol. No desespero e no dissabor, sê sal. Gasta-te para ganhar-te. Doa-te e tudo serás em Cristo Jesus. O Senhor nos conduza nestes tempos tão difíceis e nossos corações permaneçam com suas raízes fincadas no Coração misericordioso de Jesus, o Vivente.
Pe. Edson Bantim
06.03.2018