As nossas liturgias fazem memória da Encarnação do Verbo de Deus. Cantamos "Noite Feliz" e, de fato, parece que tudo está feliz e belo por um momento. Até mesmo a cena de uma família refugiada em um curral por ocasião do parto de seu primeiro e único filho, se nos apresenta como uma linda imagem, devidamente ornamentada e iluminada em um local de destaque nas igrejas e oratórios, atraindo os olhares curiosos das crianças e admirados dos demais fiéis. Não nos provoca algum escândalo ou horror.
O Natal é um tempo mágico, dizem alguns. Todos se tornam mais humanos e solidários, proclamam outros. Esquecemos que em algum lugar solitário, sob alguma ponte ou em uma rua qualquer de nossas grandes cidades, nos casebres pobres de nossas periferias e nas taperas de algum sítio esquecido se repete continuamente a escandalosa cena natalina. Cantamos "Ó vinde, ó vide até Belém!" mas a Belém de nossa imaginação fantasiosa está bem distante daquela Belém escolhida pelo Verbo da Vida como palco de sua União Definitiva com a Natureza Humana.
Deus escolhera a miséria e a pequenez, a humildade e a fragilidade, o abandono e a solidão para manifestar a omnipotência de sua Misericórdia. O Natal é tempo de descer de nossos palácios interiores, de abandonar o trono de nossa arrogância, de despir-nos da sede de poder e do orgulho que obscurece em nós a centelha divina do amor. É tempo de corrermos a Belém porque nos nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. Encontraremos o menino e sua família e, se formos suficientemente atentos, veremos em seus rostos resplandecer o rosto de tantas famílias que nos recordam dia e noite a nossa responsabilidade por um mundo mais humano, por um mundo onde Cristo seja verdadeiramente a Única Luz.
Bom Natal! Santo Natal! Humano e Divino Natal!
Pe. Edson Bantim
24.12.2016