Estamos
nos aproximando do dia decisivo para a definição acerca da condução, pelos
próximos anos, do destino de nosso país e nós cristãos, como
cidadãos, devemos dar testemunho de nossa fé em Cristo também neste âmbito da
vida pública. De fato, a separação entre fé e vida é um grave erro que
compromete o próprio edifício da fé e a legitimidade de nosso seguimento a
Jesus.
A
Igreja, sempre preocupada com o bem integral de todos os povos, indica, no
capítulo IV do Compêndio da doutrina
social da Igreja, alguns elementos/princípios que convém retomar brevemente
e considerá-los como instrumentos de discernimento acerca de nossa escolha
política. Desta forma, ao refletir acerca dos candidatos, procuremos olhá-los
através deste filtro da doutrina social da Igreja.
1.
O
princípio do Bem comum
O
primeiro princípio é aquele referido ao Bem a ser procurado. Na comunidade
política o bem comum constitui o bem moral a ser realizado pelas ações
individuais e coletivas. Um candidato ao serviço público deve primar pelo bem
comum, que não deve ser confundido com a soma do bem-estar de cada indivíduo,
mas constitui aquele estado de coisas em que cada pessoa pode encontrar as
condições necessárias para sua realização plena como protagonista de sua
própria existência. Pergunte-se, pois,
antes de votar em alguém: este candidato propõe um projeto político que dá
condições para a realização do bem comum ou procura apenas os seus interesses e
os de seu grupo?
2.
O
princípio da destinação universal dos bens
“A destinação universal dos bens comporta,
portanto, um esforço comum que mira obter para toda pessoa e para todos os
povos as condições necessárias ao desenvolvimento integral, de modo que todos
possam contribuir para a promoção de um mundo mais humano” (CDSI, n. 175). A
comunidade política deve garantir, sobretudo, que os bens naturais sejam de
acesso a todos os cidadãos e, ao mesmo tempo, deve criar as condições de acesso
comum aos bens materiais que cada pessoa necessita como condição para o pleno
exercício de sua liberdade e autonomia política de modo que o candidato aos
cargos públicos não pode fazer da assistência social um instrumento de manipulação
dos pobres e de domínio dos mais necessitados. Pergunte-se, pois, antes de votar em alguém: este candidato se propõe a
garantir, de forma equitativa, o acesso aos bens a todos os cidadãos de forma
que estes possam crescer em autonomia e liberdade ou se utiliza da fragilidade
e pobreza dos cidadãos para garantir a realização de seu próprio enriquecimento
e da manutenção de sua condição de poder?
3. O princípio da subsidiariedade
Este
princípio diz respeito ao dever do Estado de ser subsidium, auxílio às instituições e organismos de menor porte no exercício de suas funções sociais de
modo que exerçam a corresponsabilidade na promoção do Bem comum e do progresso
integral de todos os indivíduos e grupos. Deve, portanto, o Estado, “abster-se de tudo o que, de fato, restringir o
espaço vital das células menores e essenciais da sociedade. Não se deve
suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade” (CDSI, n. 186). Pergunte-se, pois, antes de votar em alguém:
este candidato se propõe em seu projeto de governo, a garantir o direito às
associações legítimas, às famílias e aos diversos grupos religiosos de
exercerem, no âmbito que lhe é próprio, a liberdade e a autonomia, a
participação no destino da própria comunidade política e o direito de viverem
segundo seus valores e em obediência às próprias consciências ou pretende impor
um determinado estilo de vida ou de organização social baseado em ideologias
exclusivistas e agressivas à liberdade individual e coletiva?
4. O princípio de participação
Deriva
do princípio de subsidiariedade e constitui-se na garantia de que a sociedade
seja sujeito de seu próprio destino, de modo democrático e equilibrado. “Isto implica
que os vários sujeitos da comunidade civil, em todos os seus níveis, sejam
informados, ouvidos e envolvidos no exercício das funções que ela desempenha”
(CDSI, n. 190). Pergunte-se, pois, antes
de votar em alguém: este candidato pretende garantir o direito à participação,
promovendo as formas democráticas de decisão acerca do destino da sociedade ou
representa apenas o seu grupo e toma decisões arbitrárias impondo ao restante
da comunidade civil aquilo que lhe convém?
5. O princípio de solidariedade
Este
princípio nasce, sobretudo, do reconhecimento da condição de interdependência
entre os indivíduos e os grupos sociais. Um bom governante deve estimular a solidariedade
entre os indivíduos e os grupos sociais, promovendo a comunhão entre os
diferentes e a co-participação na promoção da dignidade de todos, sem
proselitismos ou privilégios injustos. Pergunte-se,
pois, antes de votar em alguém: este candidato é movido por sentimentos de
solidariedade e seu projeto político contempla a dimensão da solidariedade
entre os indivíduos e grupos ou é movido por sentimentos de sectarismos e tende
a incitar a aversão, a competição, o proselitismo e a divisão entre as pessoas
e grupos sociais?
Estes
cinco princípios devem nos ajudar na escolha dos dirigentes de nosso país e de nossos estados e orientar a nós mesmos no nosso comportamento social e político.
Como cristãos, tais valores civis se impõem como dever moral de testemunho do
Evangelho de Cristo, que pretende ser no mundo um farol a iluminar os povos no
caminho que conduz à plena realização no Reino de Deus. Para a efetivação de
tais princípios é imprescindível a prática dos valores fundamentais da vida
social: a verdade, a liberdade e a
justiça. Tais valores garantem que a vida comum dos povos seja lugar
privilegiado da práxis cristã e ao mesmo tempo espaço de construção de um
progresso integral e integrado do ser humano. Ademais, cada cristão se recorde
de seu dever fundamental para com a caridade frutífera (OT, 16) decorrente de
sua união de amor com Jesus Cristo. É a caridade, de fato, a seiva que nos
nutre a partir do coração da Videira Verdadeira (Jo 15,1ss) que é Cristo Jesus
e permite que cada uma de nossas ações seja verdadeiramente obra do Espírito
Santo em nós. O Senhor nos dê sabedoria e retidão de consciência para que
sejamos, também no ambiente político, instrumentos da redenção universal
operada pelo Senhor em sua total entrega de amor na cruz.
Pe. Edson Bantim