quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um coração que seja puro (Sl 50)

A perpetuação da banalidade e a mediocridade com que a vida humana é considerada em nosso tempo, destituindo-a de qualquer possibilidade de um projeto permanente, leva a uma consideração da "pureza" bíblica como se a mesma fosse um mito, ou mesmo um ideal do qual se fala com entusiasmo em alguns contextos religiosos, mas que, de fato, não a encontramos em qualquer realidade.
A descrença na possibilidade do ser humano de alcançar a "pureza de coração" é a raiz do abandono do espírito humano à corrupção e ao mal. Esta é a forma mais eficaz de destruição do espírito humano: destituir as pessoas da fé em seu potencial de bondade e na sua capacidade de conservar uma dignidade incorruptível.
Para a fé cristã, contudo, a pureza de coração, constitui o caminho mesmo de identificação com o Mestre. Aqui não se trata, como alguém possa interpretar, na "não-pecabilidade", ou seja, na ausência total de queda, mas constitui aquela esperança fundamental na Graça redentora de Cristo que realiza no ser humano a obra originária do Pai pela efusão do Espírito Santo que purifica-nos do mal e nos reveste da beleza moral do Redentor.
Que a súplica do salmista: "Dai-nos um coração que seja puro" não se perca por nossa incapacidade de compreensão do amor de Cristo que nos converte e salve nem por nossa descrença nas capacidades humanas de auto-superação e de construção em si do projeto humano para o qual é chamado pelo criador!
Dá-nos, Senhor, um coração que seja puro. Sobretudo, faz-nos acreditar que cada ser humano pode alcançar, com a tua Graça, o mais alto nível de perfeição, realizando o teu pedido: "Sede perfeitos como vosso pai é perfeito (Mt 5,48).

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