quarta-feira, 15 de junho de 2011

Amor e Matrimônio

C’est le temps que tu as perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante*(Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez dela tão importante)* (Exupéry, Le Petit Prince)

O Amor è a grande aventura da pessoa humana em sua busca de realização. É a prova mais evidente de que fomos criados para a comunhão e não para a solidão. É centelha divina no coração humano. É sinal da nossa filiação divina. O amor é o sentimento que exprime mais perfeitamente a relação entre Deus e o seu povo em toda a história da salvação, bem como é o critério de leitura e compreensão dos textos bíblicos que ilustram a história do Povo de Deus.
Como todos os sentimentos, o amor é involuntário. Não se escolhe amar, simplesmente acontece. Como eu não posso escolher e decidir se o sol vai nascer, se as estrelas vão brilhar esta noite, se a lua vai estar clara, se vai cair a chuva... enfim, como tudo que é natural e belo, o amor também vem de Deus. Mas, assim como posso escolher não tomar sol, não olhar as estrelas, ignorar a luz do luar, usar um guarda chuva para não se molhar, posso também escolher ignorar o amor. Ele porém sempre vai estar lá, pois não depende de minha vontade para existir, mas depende de minha vontade para realizar-se em minha vida. Assim, Deus nos dá o amor mas nós é que decidimos o que fazer com ele.
Como disse, o amor é uma grande aventura. E, como toda aventura, impõe riscos, causa medo, dá aquele friozinho na barriga... exige de nós: fé. Fé no amor, fé em quem se ama e fé em nós mesmos, na nossa capacidade de sair... pois o amor é antes de tudo, saída – ninguém vive aventuras ficando em casa. Devemos ser capazes de sair de nós mesmos e andar ao encontro do universo do outro, pois amar é encontrar-se.
O amor nos permite perceber aquele detalhe que torna cada pessoa diferente de todas as outras, especial, incrivelmente amável e desejável. E quando descobrimos algo assim, significa que já não moramos em nós mesmos, mas a nossa vida armou a sua tenda na vida de quem amamos. Para isso é preciso ser paciente, gastar tempo... cumprir todos os ritos preliminares... sim, porque o amor exige ritos... A imagem de Deus moldando o homem do barro e dando-lhe vida, é expressão sublime de quem ama. Quem ama molda em sua alma, com a argila de seus sentimentos e verdades profundas, a pessoa que ama, depois dá-lhe vida com o sopro fecundo de seu prórpio amar. Assim Deus os criou, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou. E viu que era muito bom. (cf. Gn 1, 27.31).
A frase de Exupéry em “O Pequeno Príncipe”, (que pus no início do texto) expressa a necessidade do tempo e dos ritos para a realização do amor. Se quisermos viver intensamente o amor, é preciso estarmos dispostos a gastar tempo com quem se ama. Quando gastamos tempo, até mesmo olhando, lembrando a pessoa amada, vamos aos poucos descobrindo o seu valor especial para a nossa vida. Descobrimos o que a destingue de todas as outras pessoas e que nos dá razões para crer que nela encontramos o terreno fértil e único para plantar a nossa alma e realizar a nossa vida como vocação divina ao amor fecundo e eterno. “Que tem o teu amado mais que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é o teu amado mais que os outros, para assim nos conjurares?” (Cântico dos Cânticos, 5,9).
Quando se descobre finalmente a resposta desta pergunta, está na hora de unir o nosso caminho ao caminho daquela(e) que amamos e por quem somos amados. Agora se deve caminhar juntos e o amor semeado em minha vida por Deus como pulsão, motivação, se torna VOCAÇÃO. Chamado à comunhão, ao testemunho. Este é talvez o passo mais importante, pois a partir de então, aquele amor escondido dentro de mim, que me realizava individualmente se torna grande demais para caber em mim e precisa derramar-se em outra vida que me acolhe e também me preenche de si mesmo. “Passei junto de ti e ti vi. Era o teu tempo, tempo de amores, e estendi a aba da minha capa sobre ti e ocultei a tua nudez; comprometi-me contigo por juramento e fiz aliança contigo e te tornaste minha”. (Ez 16, 8)
O relato do amor de Deus com o seu povo no livro do profeta Ezequiel demonstra a grandeza do amor de Deus, do qual o amor conjugal é imagem. Também o casal com a aba da capa (vida) devem ser capazes de esconder a nudez (solidão, infelicidade) um do outro, num encontro de aliança e compromisso incondicional e desinteressado. Para isso, Deus nos concedeu em Jesus, a graça sublime de que necessitamos para poder viver com fidelidade o amor–vocação ao qual nós fomos chamados em Sua infinita bondade, para que pudéssemos realizar a nossa felicidade e ao mesmo tempo dar testemunho de sua presença amorosa em nós.
Pe. Edson Bantim
Roma-It,15/06/2011

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